9 de dez. de 2012

Niemeyer - por Aldo Rebelo

O arquiteto Oscar Niemeyer morreu como viveu: desenhando sua vida e dando vida às coisas como “um jogo inesperado de retas e curvas”. Uma das raríssimas unanimidades nacionais, o construtor de Brasília recusou, tanto na Arquitetura como na Política, o “ângulo reto” que tenta emparedar a aventura evolutiva da Humanidade. 
Falecido no dia 5, aos 104 anos, Niemeyer emergiu de uma safra fecunda de grandes brasileiros destacados não só em seus ofícios como no engajamento político. A natureza foi pródiga com o Brasil na produção de homens de uma cepa especial no século XX. A eles não interessava, seguindo o conselho do filósofo, apenas interpretar, mas também transformar o mundo. Nem sempre pelejaram na mesma trincheira – um dos maiores, Gilberto Freire, foi ao lado oposto do espectro político – mas todos engrandeceram o Brasil com sua genialidade.



A Política deu à obra de Niemeyer uma dimensão humana à qual ele sempre subordinou a Arquitetura. A vida é mais importante, dizia. Ingressando no Partido Comunista em 1945, militou na trincheira da liberdade em que também atuavam algumas de nossas maiores inteligências e talentos, como o pintor Cândido Portinari, o poeta Carlos Drummond de Andrade, os romancistas Graciliano Ramos e Jorge Amado e outros que com valentia e arte ajudaram o Brasil a ser próspero e soberano. 



Se desenhou templos de paixões nacionais, como igrejas e sambódromos, faltou na obra do grande arquiteto um estádio de futebol. Os poucos que bosquejou não saíram do papel. Em 1947, participou do concurso para construção do Maracanã. Apesar de incluir o bailado das curvas, marca de sua obra e do futebol, o projeto foi recusado, em sua opinião posterior, merecidamente. Na desvelo de privilegiar o triunfo do Homem sobre o concreto, planejou uma arquibancada única do lado onde o sol não ofuscava o torcedor.

Aldo Rebelo, ministro do Esporte.