27 de jan. de 2013

Do espontâneo à participação articulada - por Ramon Alves*

O Rio Grande do Norte tem sido palco recente de um consistente processo de mobilizações políticas de impacto socialmente relevante e que tem alterado a atmosfera das percepções sobre as políticas públicas implementadas no âmbito das gestões municipais e estadual, com eferverscência particular e mais eminente na sua capital.

Esse ambiente pode nos abrir uma oportunidade de qualificar os atores sociais - organizados ou autônomos -, como parte da estrutura de poder do Estado para que se tornem agentes do processo de decisões discutidas e encaminhadas nas esferas das prefeituras e governo estadual.

O Nordeste, de maneira geral, e o Rio Grande do Norte, particularmente, são reconhecidamente carentes quando se trata da constituição de desenhos institucionais que sejam capazes de promover a interação entre a sociedade civil e o poder público. No caso do RN, até 2004, éramos o único Estado da região a não ter uma experiência de OP (orçamento participativo), somando-se a nós mais três das regiões Norte e Centro-Oeste.

É notável o descompasso entre o esforço nacional para o desenvolvimento de novos instrumentos de participação política e social, o fortalecimento dos existentes e a exígua ocorrência de tais iniciativas no RN.

A grosso modo, a primeira e mais imediata relação que podemos estabelecer entre a ausência de políticas democratizadoras das relações de poder e a percepção sobre a função pública é a sua lenta mutabilidade. Via de regra, mesmo as renovações que se operam pela arena eleitoral revelam transições que se realizam no seio de grupos familiares - filhos, irmãos, primos e sobrinhos que alçam à esfera institucional por influência do parentesco.

Vejamos outra tendência. Em 2009, parte da base aliada do governo de Vilma de Faria (PSB) abandonou-a criticando, dentre outras questões, que parte expressiva do orçamento estadual aprovado anualmente era resultado da influência direta do presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Faria, o que minava a autonomia da gestão pessebista.

Se analisarmos o decisivo apoio de prefeitos do interior para a eleição do seu filho, Fábio Faria, a Deputado Federal, à época um completo desconhecido entre os potiguares, verificaremos uma parte decisiva dos recursos públicos escoando para projetos pessoais e de grupos a partir da cooptação pelo orçamento do Estado aprovado no legislativo estadual. Aliás, a presidência da ALERN tem se revelado o melhor cabo eleitoral para quem quiser eleger um sobrenome.

Essa amálgama de interesses particulares é o que torna o nosso Estado incapaz de acompanhar o ritmo de desenvolvimento do país. Sobressaem-se os interesses privados e tornam-se secundários os interesses coletivos.

A especificidade do momento é que as mídias sociais têm sido um importante polo de difusão dos problemas de gestão pública e quando a política maior de desenvolvimento humano e das forças produtivas se apresentam ínfimas à percepção geral da sociedade, sobram os pequenos problemas do cotidiano - condições do asfalto, questão do lixo, limpeza urbana, etc.

Essa participação cívica acumulada ao longo desses últimos anos - Fora Micarla, Fora Rosalba, dentre outros - pode ou não realizar uma oportunidade. É uma premissa relevante rebalancear a articulação entre a democracia representativa e a democracia participativa. Como em outras oportunidades, como o caso da implementação do OP de Porto Alegre, parece ser indispensável que a articulação dos movimentos populares - no nosso caso, uma imbricada relação de espontaneidade com dose cavalar de organicidade - dê vazão à necessária reivindicação por espaços eloquentes de debate público envolvendo sociedade e governantes.

A espontaneidade da crítica é o primeiro passo para a ação consciente que nos levará às mudanças estruturais, embora não seja uma consequência automática. A sociedade é uma parceira e uma variável determinante para qualificar e elevar as políticas públicas. Estamos chegando a um período no Rio Grande do Norte em que não dá mais para que governos ludibriem as pessoas com práticas superadas de gestão pública. As políticas públicas de nível federal e a aprovação popular dessas levam a um rigor e expectativa cada vez maiores também em nível local sobre o papel das prefeituras e governos estaduais.

* Coordenador de Articulação do Centro Acadêmico Djalma Maranhão

12 de jan. de 2013

NOTA DE REPÚDIO DO CAGPP AOS VEREADORES LUIZ ALMIR (PV) E BISPO FRANCISCO DE ASSIS (PSB)


Durante o século XXI, vimos reforçar no seio da sociedade brasileira instrumentos democratizantes das relações de poder nas gestões públicas em todos os âmbitos. O país vem se modernizando e, nesse movimento, ampliando as estruturas de participação política e social, alargando a profissionalização das gestões, sob o suporte de uma universidade mais democrática e interligada com a diversidade regional, formando atores decisivos na formatação desse novo Brasil.

No entanto, esse não é um processo histórico isento de fortes contradições e de interesses contrariados. Há aqueles que continuam sob a influência do modelo da Casa Grande, utilizando-se do espaço público como elemento de reforço à sua influência sobre a sociedade, ignorando que tal espaço deve ser expressão dos interesses legítimos da coletividade. Esse é o dilema que se perpetua na Câmara Municipal de Natal.

Salta aos olhos a naturalidade com que parlamentares com anos de vida pública enxergam o seu papel no legislativo, agindo com mesquinhez e paternalismo, apropriando-se do mandato para satisfazer interesses pessoais e não para elevação da qualidade da Câmara Municipal. Mesmo após os últimos dois anos, em especial, em que o legislativo natalense passou ao largo dos interesses da maioria da população, restando-lhe medíocre índice de popularidade. A nova legislatura deveria empreender um movimento de reflexão e saldar a dívida acumulada com a população.

Não foi o que vimos acontecer durante esta semana. Coube ao primeiro Projeto de Lei do ano de 2013, retratar o mar turbulento pelo qual navega e provavelmente navegará a Câmara ao longo do ano. O Projeto de Lei nº 1, que determina a criação de 80 novos cargos comissionados (64 cargos de Assessor Parlamentar Municipal e o remanejamento de mais 16 cargos da administração da casa legislativa para atender a demanda dos oito gabinetes dos novos vereadores), foi aprovado com direito à zombaria pelos vereadores Luiz Almir (PV) e Francisco de Assis (PSB).

O vereador do PV afirmou que “se algum vereador estivesse achando que tinha muitos cargos comissionados poderia repassar para ele porque tinha muita gente pedindo emprego na Zona Norte”. Já o Bispo considerou que “O desemprego é grande. Dez pessoas é muito pouco, era bom que fossem 20 pessoas”.

O discurso de ambos, eleitos para defender os interesses de toda a população, é típico daqueles que ainda não se encontraram com o tempo em que vivem. A população espera que a Câmara ajude a encontrar soluções criativas para o nosso desenvolvimento econômico e social e que, assim, pavimente o caminho para a ampliação do emprego e da renda e não que seja uma estrutura parasitária e cabide de emprego. Tal discurso é um retrocesso e não pode ser visto como natural por quem acompanha as disputas de projetos que se desenvolvem no legislativo de Natal.

Nesse sentido, o Centro Acadêmico Djalma Maranhão repudia as declarações dos vereadores Bispo Francisco de Assis, do PSB, e Luiz Almir, do PV, cujo conteúdo afronta a todos os que torcem por saídas coletivas e qualificadas para a grave crise vivida por nossa cidade.

12 de janeiro de 2013

Centro Acadêmico Djalma Maranhão
Gestão de Políticas Públicas da UFRN