4 de mai. de 2011

O Crescimento Populacional Metropolitano e os Desafios da Gestão Pública


Entre 1920 e 2000, portanto por 80 anos seguidos, o ritmo de crescimento demográfico de Natal manteve-se à frente do crescimento populacional do estado. Esse fato garantiu à capital potiguar um crescente peso na distribuição da população estadual. Nas primeiras décadas do século XX tão somente 5,7% da população norte-riograndense residia em sua capital. Esse percentual foi progressivamente se expandindo até alcançar 25,6% em 2000.

Verifica-se assim uma progressiva concentração demográfica no estado. Em 1920 somente 1 em cada 20 moradores do RN residiam na capital. Em 2000 esse indicador já era de 1 para 4.

Todavia, desde a década de 90 que nossa capital vinha dando sinais de esgotamento em sua capacidade de crescimento populacional. Na primeira década do século XXI essa tendência se consolidou e pela primeira vez em 9 décadas a capital cresceu em ritmo inferior ao crescimento do conjunto da população estadual.

A queda da participação de Natal na população do estado trás, porém, muito mais desafios aos gestores públicos da capital, do governo estadual e dos gestores dos municípios em seu entorno.

Isso acontece porque a queda de participação de Natal na população do RN ocorreu não porque a capital perdeu capacidade de atração demográfica. Ela perder participação porque não tem mais espaço físico para crescer. A ocupação urbana da capital já ocupou praticamente todo o seu território, restando agora duas alternativas de crescimento: 1) vertical; 2) dentro do território dos municípios vizinhos.

Natal já não cresce mais no mesmo ritmo anterior simplesmente porque seu crescimento se dá nos municípios do seu entorno. Entre 1970 e 2010 os principais municípios vizinhos à capital potiguar (Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba) saltaram de 4,03% de participação na população estadual para 11,35%.

Com isso a participação de Natal e seus principais municípios do entorno aumentaram seu quinhão de participação na população estadual de 21% para 36,7% nas últimas 4 décadas. E essa tendência não está dando sinais de esgotamento.




Mas é preciso reconhecer que tais municípios crescem não por motor próprio. É simplesmente o crescimento demográfico da capital se esparramando pelos territórios vizinhos.

Esse fato trás significativos desafios para os gestores locais de políticas públicas. Não adianta mais traçar políticas municipais isoladas para o enfrentamento dos problemas locais. Questões como trânsito, mobilidade urbana, saneamento básico, educação, saúde, segurança pública, desenvolvimento econômico, dentre outras, deixam de ter conotação apenas local e passam a demandar cada vez mais a articulação institucional dos gestores públicos.

O caso da estreita simbiose entre o crescimento de Natal e Parnamirim é paradigmático dessa questão: mantida a tendência das últimas 4 décadas, entre 2010 e 2020 o município de Parnamirim irá registrar não só o maior crescimento proporcional entre os municípios do RN. Ele também registrará o maior crescimento em termos absolutos, ou seja, será a cidade que irá incorporar o maior contingente populacional.

Isso pode ser facilmente visto no gráfico abaixo. Nas últimas duas décadas o incremento populacional de Parnamirim vai progressivamente se aproximando do incremento de Natal e tende a ultrapassá-lo. Entre 2000 e 2010 a população de Natal aumentou 91 mil pessoas e a de Parnamirim 78 mil. Mas a tendência de crescimento das duas cidades aponta que na presente década a população de Parnamirim pode aumentar para a casa das 95 mil pessoas enquanto Natal crescerá pouco mais de 77 mil.

Mesmo nessa última década (2000-2010) nós já verificamos que o crescimento de Natal (91.422 pessoas) foi inferior àquele registrado pela soma dos seus principais vizinhos (Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba), que foi de 110.583 pessoas.


Por Aldemir Freire

Economista formado pela UERN. Em 2002 ingressou no IBGE, na carreira de Tecnologista em Informações Geográficas e Estatítisticas, como Analista Sócio-Econômico. Foi coordenador estadual da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A PNAD é a maior e mais abrangente pesquisa amostral domiciliar do RN. Atulamente está na chefia da Unidade Estadual do IBGE no RN

Fonte: Carta Potiguar